Nunca sei ao certo se comento algumas atividades que faço em torno dos grupos que estou envolvido. Sejam eles grupos de empresários, interessados em algum tema que falo e aprofundo ou ainda membros, sócios e colaboradores das empresas que tenho algum envolvimento.
A questão é que liderança é um tema recorrente em muitos dos lugares que falo. Vivemos uma crise imensa de liderança. Se por um lado liderar, por exemplo, deveria ser o norte confiável para os líderes, como posso liderar, por exemplo, se eu mesmo estou perdido?
Quantas pessoas você conhece que literalmente não sabem para onde ir? Mais ainda, quantos amigos você tem que abandonaram carreiras, casamentos, relações, cursos, por simplesmente não se encontrarem mais ou por se sentirem completamente indiferentes à realidade em que estão vivendo?
Certa vez, em uma das empresas que atuo, comecei uma experiência de desenvolver lideranças através de estudos de livros. A ideia foi introduzir neste grupo, o hábito da leitura, ao mesmo tempo em que trabalhávamos o desenvolvimento pessoal de cada um, indo muito além dos treinamentos.
Lembro que em alguns estudos, tínhamos uma verdadeira sessão de terapia em grupo, em outros casos, um livro mais árduo colocava à prova a capacidade da turma de continuar firme até o final da obra.
Bom, já foram mais de dez obras, sendo que na média cada uma levava quatro meses com encontros mensais de duas a três horas. Em uma das experiências, estudamos o Monge e o Executivo. Essa sempre será uma leitura recorrente para poder trazer novas inspirações que, literalmente, alimentam minha capacidade de pensar.
Em um dos grupos, esses dias, surgiu a temática de estudarmos um livro sobre liderança. A questão que veio à tona foi: por que estudar liderança novamente? E a resposta não podia deixar de ser melhor, liderança deve ser uma constante, porém para isso, precisamos recuperar o que é liderar.
Então, lá fomos nós iniciar mais uma jornada de volta ao mosteiro. Sou um apaixonado por algumas tradições e as ordens monásticas da igreja católica têm meu especial apreço. Uma delas, as ordens beneditinas nascem do Santo chamado São Bento e têm como base o mosteiro representado no livro o Monge e o Executivo.
Ele por si só já é um livro envolvente e profundo, mas o que sempre me chama atenção são as lições básicas ensinadas pelo Monge. Tendemos, veja esta é uma ação natural nossa, a complicar quase tudo. Tornar complexo pelo simples fato de achar que fica mais atraente ou interessante. Quando fazemos isso, afastamos quase todos do que poderia ser o melhor entendimento do assunto.
O Monge, recupera a simplicidade dos relacionamentos mostrando que para ser líder, primeiro é essencialmente necessário gostar de se relacionar. A questão é que quando lideramos, devemos estar mais atentos ao que o outro quer do que ao que nós queremos. Esse ponto bate de frente com nossa ânsia em ser o centro. Cutuca nosso ego e eleva nossa insatisfação com a liderança, por exemplo.
Outro ponto simples, porém, de tamanha profundidade é a questão do silêncio e como é difícil prestar atenção no outro, se sempre queremos toda a atenção para nós. Em um típico exemplo da demonstração de liderança, apenas compreendendo bem que o que o outro está dizendo, é que posso ajudá-lo e desenvolvê-lo. Nossa ânsia em falar quase sempre, responde tudo antes mesmo de escutar o que está sendo perguntado.
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Em outro momento do livro, gosto muito da sala de aula aonde são conduzidos os estudos no mosteiro. Veja que mal comentei aqui os personagens que compõem o enredo do livro, apenas eles já dariam ótimas reflexões sobre liderança.
A questão central do livro está dentro da narrativa de um dos personagens super bem-sucedido na vida empresarial, que perdido na vida pessoal, busca nos ensinamentos do mosteiro, respostas a todas as suas dores, culpas e desencantos. O interessante da busca dele é que ele faz no tempo dele e na velocidade que está acostumado. Não percebe que para poder entender o que está acontecendo, primeiro precisa parar, ouvir, sentir e iniciar a mudança.
Esse movimento é interessante e necessário para qualquer mudança. Com certeza, não precisamos estar em um mosteiro para que seja possível ajustarmos o rumo das nossas vidas ou refletirmos sobre o que andamos fazendo com ela. Porém, proporcionar um momento de encontro conosco mesmo, acaba sendo fundamental para tais movimentos de mudança.
A resposta do por que isso, também é simples. Primeiro: não paramos quase nunca para perceber o que estamos sentindo. Segundo: criar momento de verdadeira conexão conosco é tão raro que acaba tendo locais especiais como cenário. Quem dera privilegiássemos o encontro com nosso eu interior, em detrimento dos posts no mundo digital.
Quando falo de liderança, por exemplo, fica evidente que primeiro temos que liderar a nós mesmos. Este é um exercício bem mais complexo do que se pode imaginar. Porém, o constante esforço no autoconhecimento, assim como o personagem faz ao ir ao mosteiro buscar este encontro, proporciona boas possibilidades de verdadeiramente sermos capazes de nos conhecer melhor e ajudar os outros a se conhecerem. Este é outro bom exemplo de liderança.