Será que ainda sabemos o que é comunicação humana?

Temos realmente vivido tempos novos. Aqui e ali tudo parece estar um pouco diferente. Em alguns casos, não vejo nem tanta mudança. Mas a comunicação humana, antes definida pela troca de informação entre duas pessoas reais, vive um momento de transformação complicada.

Veja, nem posso dizer que é para o bem. Você, caro leitor, assim como eu, percebe como as pessoas têm reduzido drasticamente o número de encontros e conversas sinceras?

Olhando ainda por outro ponto de vista em relação à comunicação humana, você já parou para pensar quantas vezes estava realmente focado onde deveria estar? Já viveu a situação de achar que estava na reunião errada? E quando aquela experiência ou rotina parece que não faz ou nunca fez sentido em sua vida?

Muitos hoje têm dito que esta é a crise de valores que vivemos. Eu vou um pouco além – acredito de fato que vivemos um momento único em que a comunicação humana está sendo perdida. Devemos olhar com sinceridade nossa vida. E fazer um esforço verdadeiro para compreender o que faz sentido e o que não passa de perda de energia e tempo.

Quando deixamos de praticar a comunicação humana, perdemos nossa humanidade

 

Veja, não pense que se trata de otimização do tempo, organização ou disciplina. Minha reflexão se dá justamente pela desconexão que tenho percebido em tantas pessoas. Entendo que vivemos um momento de mundo diferente, mas não podemos, porém, deixar de praticar a comunicação humana. Caso contrário começo a achar que os verdadeiros zumbis tão famosos em series e filmes literalmente somos nós.

Estamos dia a dia perdendo a capacidade de fazer relações sinceras. E de nos comunicar delegando a todo tipo de interação digital o que deveria ser nossa essência. Reuniões sem sentido, pois, afinal, todos estão no celular, encontros marcados por app que apenas oferecem a casca e privilegiam o físico. Interações digitais mentirosas que levam à face mais infantil de nossa humanidade.

Para acompanhar com você minhas argumentações vou contar uma breve história. Tenho feito uma formação em psicanálise depois de percorrer pelos caminhos das áreas humanas da ciência à exaustão. Pode parecer sem sentido, mas em uma sala de aula de futuros psicanalistas podemos ter uma parcela relevante daqueles que ainda insistem em pensar e praticam a comunicação humana em sua plenitude.

Fazendo apenas uma breve reflexão, a psicanalise nasce justamente da prática do questionamento. Tendo como base a comunicação humana. Uma das minhas colegas de turma sempre faz suas observações sobre os pontos expostos a partir das dimensões que ela vive intimamente ligadas aos jovens.

Leia também: Desenvolvimento pessoal: Como continuar conectando os pontos

A quantidade de jovens que simplesmente não sabem como lidar com a liberdade e não mais praticam com ênfase a comunicação humana nos dias de hoje e se refugiam nas redes sociais é assustadora. Ou eles têm como único foco de conhecimento e interação os canais virtuais ou se refugiam em relações únicas, contando nos dedos de uma única mão o número de pessoas que interagem fisicamente.

Pilar da nossa humanidade 

Comparando uma geração à outra, facilmente percebemos uma redução em mais de 50% do número de pessoas que a geração passada interagia. Estamos criando seres que, em uma velocidade imensa, não sabem mais se relacionar face a face. E que estão perdendo a capacidade de comunicação humana. Triste mesmo é, por outro lado, ver os números impressionantes de pessoas que sofrem de depressão, fobias, neuroses ou ainda síndromes das mais complicadas possíveis.

Confesso! Não conseguiremos evoluir como seres humanos perdendo nossa essência ou acreditando que o futuro será de robôs. Ou zumbis, que apenas conseguem expressar o que sentem por meio de interfaces tecnológicas.

Tenho adotado em meus treinamentos a técnica de desconexão. O distanciamento do celular, uma respiração profunda de cinco a dez minutos. Ela vem acompanhada de um mantra ou ainda uma reflexão sobre nossa existência. E auxilia mesmo que momentaneamente a voltarmos para a realidade. Isso, porém, é apenas um flash de segundos em uma existência de décadas. Precisamos retomar nossa essência humana antes que deixemos de parecer humanos e percamos nossa capacidade de nos comunicar.